Fatal

O universo dos mitos não é exatamente novo para Guilherme Leme Garcia. Como diretor, ele esteve à frente dos ótimos RockAntígona (2010) e Trágica.3 (2014), montagens que, a partir de um olhar arrojado, exploravam ícones da tradição helênica em desbravamentos cênicos. Agora em Fatal, ele se espraia para além da Grécia (sem, entretanto, abandoná-la de todo) e mantém o padrão de excelência. Aqui, a ideia é versar sobre o amor por meio de lendas de três apaixonados casais – personificados em cena por Debora Lamm e Paulo Verlings. A convite do diretor, cada uma das três histórias foi livremente reinterpretada por um nome de peso da dramaturgia contemporânea nacional. Assim, Pedro Kosovski escreveu sobre Eros e Psiquê, pinçado da mitologia grega; Marcia Zanelatto se incumbiu de Tristão e Isolda, de origem celta; e a Jô Bilac coube Kama e Rati, de proveniência indiana.

Em que pese a diversidade entre os textos, os três soam unidos por evocações líricas, garantindo uma potente coesão. O diretor tomou partido dessa linha mestra no palco, confeccionando um belo poema cênico em três estrofes, cada qual com suas marcações singulares, mas perfeitamente integradas. Cada elemento da montagem converge para essa abordagem poética – o cenário de Aurora dos Campos, sugerindo uma câmara ou mesmo um altar, a luz algo mística de Tomás Ribas e os figurinos negros de Marcelo Olinto remetem a um lugar onírico. O tom das atuações segue essa linha, em um minimalismo radical de expressões e movimentos através do qual se vislumbra a força das palavras e se densifica o amor presente nos mitos. Debora e Verlings dominam o texto e estabelecem uma contracena poderosa (e dificílima) por trás de uma aparente ausência de interação.

[foto: Zô Guimarães]

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